- Vai até onde o fôlego deixar, guerreiro.
- Pára de me chamar de guerreiro!
- Tá bom, campeão. Mas vai lá... tu tem que tentar.
- Não me chama de campeão também, porra!
- Mas é assim que os caras se chamam lá na plataforma...
- Vão pra puta que pariu os caras da plataforma. Bando de idiotas...
- O que tu tá fazendo?
- Vou acender um baseado.
- Ô guerre... ô cara, isto não te faz bem. Não faz bem pro treino.
- É isso aí: não faz bem pro treino. Faz um bem danado pra mim, maninho.
- Ihh, já vi tudo... tu tá desistindo da competição.
- Não sei, cara. Talvez não. Mas agora eu preciso fumar unzinho, senão eu enlouqueço.
- Tá assim por causa daquela mina?
- Que mina, cara?
- Tá sim... já vi tudo. Tu nem pegou o troco do cachorro-quente quando viu ela com aquele magrão. Aliás, nem comeu o cachorro-quente.
- Tu tá doido, Benê! Não sei de que mina tu tá falando. E aquela salsicha tava estragada.
- Uhum...
- É... uhum sim, negão. Tá achando que sabe mais do que eu da minha vida, cara?
- Não...
- ...
- Mas a galera sabe que tu andou dando uns pegas naquela gatinha e tal.
- E daí, porra? Dei uns amassos, o que que tem?
- Te conheço há uma cara, campeão... tu ficou a fim da mina.
- Ah, essa é boa! A fim daquela vadia?
- Minha mãe lida com uns trabalhos de terreiro e tal, tu sabe. Ela disse que a Vandinha é bruxa. E ela te pegou, maninho.
- Pegou o caralho...
- Bom, guerreiro... melhor que não mesmo. Aquela guria é uma puta... uma baita puta. Ela andou dando uns tempos pro Zeréu, e todo mundo sabe que aquele negão tem gonorréia até por dentro dos zóios.
- Sífilis.
- Ãhn?
- O que aquele cara tem é sífilis.
- Como é que tu sabe?
- A Vandinha me falou.
- E como é que ela sabe a diferença entre gonorréia e sífilis?
- A irmã dela trabalha na Unidade de Saúde Comunitária. E a Vandinha convenceu o negão a ir até lá.
- Puta que pariu... Então o cara vai morrer?
- Que morrer o que, mané! As pessoas não morrem mais desta porra. Agora tem remédio.
- E a Vandinha?
- Fez uns testes... tava limpa. Aí saiu fora.
- E foi dar praquele porra daquele branquelo cheirador. Essas minas são tudo vadias, campeão.
- Quer um pega?
- Não. Tô fora, tu sabe. Meu lance agora é ajudar a gurizadinha da vila a se exercitar.
- Dá um tapinha aí, Benê. Tô vendo que tu tá louco de vontade.
- Não... passei.
- Melhor... mais me sobra.
- Mais e aí? Tu fissurou nesta tal Vandinha, né?
- Vai te fuder, negão! Vou te dizer, cara, essa mina fode de um jeito... puta que o pariu! O cara enlouquece. Mas não tô por essas, se tu quer saber.
- Então tá pela competição, né? Vamo encarar?
- Dá um tempo, porra! Deixa eu terminar o béqui.
- Pô, campeão... não vai falhar comigo. Arranjei esse tenizão aí pra ti só pra competição.
- Arrã... sei onde tu arranjou. Deste jeito eu também arranjo, zé mané.
- Não é roubado, não, maninho. Esse aí veio da grana do patrocínio.
- Rá, rá, rá, rá... Patrocínio, negão?!!! Tu é muito cara dura! Quem é que vai patrocinar essas merda de campeonato de vila?
- Veio uma grana da prefeitura, guerreiro. E também os comerciantes da vila tão apoiando.
- Sério, cara?!!! Rá, rá, rá... Esta é boa! Ontem tu assaltava na Rua Grande, hoje tu vai lá pedir patrocínio. Rá, rá, rá.
- Ti fudê, maninho. Nunca assaltei na Rua Grande. Muita chinelagem roubar dos de casa. E também não é eu que peço grana pra eles. Nem vejo os pilas. Só disse que tu precisava duns tênis e as minas do projeto trouxeram esses.
- Hum... Bem legais, mesmo. Bem legais. Até lavei os pés, cumpadi.
- Rê, rê, rê... Esses pés que vão fazer a gente ganhar a competição, campeão.
- Vamos ver, Benê... vamos ver.
- Vamos mesmo, rê, rê, rê.
- Ahhh... fumo do caralho, maninho. Melhor que isso só uma noitada com a Vandinha.
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