Friday, April 27, 2007

Os machões também brincam...

Eu, com as sandálias da minha colega, Clarissa. A idéia de ficar 10 cm mais alto (menos baixo, no meu caso) não é nada má, mas sei lá... não gostei da cor.

Everything about me!

Começando pelo começo, fui um espermatozóide bem rapidinho. Mas me custa acreditar que algum dia já ganhei uma corrida. Depois cresci... Não muito, é verdade. Tenho me mantido resignado dentro de medidas bem modestas. Porém, tenho extremidades desproporcionais: mãos grandes, pés grandes, orelhas grandes e grandes esperanças de que estudos frenológicos tenham descoberto alguma vantagem para quem tem um crânio desmesurado. Meu nariz também está longe de ser um atributo discreto. Além disso, não funciona bem.
Lá pelos meus 14, queria ser o Rambo, somente 10 anos depois a literatura me salvou. Então quis ser o Raskolnikóv, o Werther ou os lupinos do Jack London. O Rambo já era... se bem que sempre que penso em assassinar velhas usurárias me ocorre usar uma bazuca... (brincadeirinha, com a machadinha é bem mais divertido (ãh... brincadeirinha de novo).
Acho que sou meio esquisito. Os outros têm certeza de que sou. Desenho bem, mas graças a caras como Frank Miller, Horácio Altuna ou os irmãos Hernández, sou um frustrado. No campo da frustração pode-se ainda incluir: escritor frustrado, músico frustrado e fotógrafo frustrado. Assim sendo... vou ter que me contentar em ser apenas um sex symbol.
Esses dias estava somando os pontos de todas as minhas cicatrizes e cheguei a respeitável marca de 39. Sim, este corpinho tem histórias pra contar. Não vou narrá-las agora pois no momento estou lendo Raymond Chandler e correria o risco de glamourizar um pouco o que foram apenas acidentes, primeiro de uma criança, depois de um adulto inconseqüente. Pensando bem, de uma eterna criança inconseqüente (ah, como sou lindinho!!!).
Ano retrasado saí na Folha de S. Paulo por ter desenhado uma moeda que circulou no Fórum Social Mundial. Um mês depois saí na Zero Hora, no Listão dos Aprovados. Sempre achei que era muito inteligente. Minhas notas em Filosofia têm me feito repensar isso. Inteligentes mesmo foram o Aristóteles e o Arístocles. Esse último mais conhecido como Platão (é incrível, o mundo pensa hoje pela cabeça de Platão).
"Especialistas são pessoas que sabem cada vez mais sobre cada vez menos, até que um dia ficam sabendo tudo sobre coisa nenhuma". Essa frase é do Bernard Shaw e não há razão nenhuma para estar aqui, a não ser pelo fato de que eu adoro citá-la. Meu amigo Jeferson me disse que o conto "Do rigor na ciência", do Borges, é sobre isso. Passei a achá-lo muito mais legal depois da explicação. O texto, não o Jeferson.
E é isso... eu queria escrever mais, mas tem uma velhinha agiota batendo à minha porta.
Onde foi que eu meti aquela machadinha?

Meu amigo Gô

Eu tive um amigo muito louco. Fez todas as festas, experimentou todas as drogas, comeu muita gente... era um cara bonito. Serviu na Marinha e acho que nunca trabalhou (no que estava muito certo, o mundo é que tá errado pra quase todo mundo). Me apresentou as bandas Carcass e Canibal Corpse. Me deu todas as Love and Rockets que saíram no Brasil (raríssimas vezes me deram um presente tão bom). Tinha um brilho nos olhos e não apenas quando curtia umas carreiras. Uma vez brigou comigo por que eu fiz uma HQ na qual o Lobo e o Wolverine começavam se pegando no pau e acabavam se beijando, casando e abrindo uma lojinha sado-masô. Alguns anos depois acho que ele reavaliaria este caso.
Uma vez bateu no meu apê, lá na Protásio, e disse "vamos pra Três Coroas visitar o templo budista". Eu disse sim, pois estava há meses desempregado e pensando em congelar meu corpo até o ano 2100, pelo menos. Fomos. Chegamos a Três Coroas no fim da tarde e subimos a montanha. No meio do caminho começou a chover e de repente escureceu. Eu tive uma crise de asma e estava sem bombinha. Quando chegamos lá em cima fomos recepcionados por três buldogues com caras nada budistas.
- Tenho medo de cachorro - eu disse.
- Fica tranquilo, eu tenho o poder da mente - disse o meu amigo.
É... tudo bem, mas eu não tenho. Pensei comigo.
Mas passamos incólumes. Uns norteamericanos de cuidavam do lugar vieram conversar com a gente (um deles parecia o Highlander)
- Eu e o meu amigo viemos conhecer o templo - eu disse - Vai ser ótimo ficar uns dias por aqui, já que a hospedagem e a comida são de graça, amigo budista.
Mas não, ao contrário do que o meu amigo afirmara, a comida e a hospedagem não eram de graça.
E agora?
Os americanos foram gentis e nos ofereceram carona até Taquara, onde poderíamos pegar um ônibus de volta. Adeus Riponchê, adeus energias telúricas, adeus uma, duas, três coroas...
No caminho meu amigo começou a conversar com um dos dois budistas.
- Pois é... eu vim aqui pra convencer o Riponchê que o lance não é o Budismo e sim o Taoísmo.
O cara olhou pra nós.
Eu disse - não tenho nada a ver com isso, essa é a opinião dele - e era mesmo, eu nem sabia da história.
O Riponchê morreu alguns anos depois, provavelmente sem ter descoberto o quanto o Taoísmo era melhor que o budismo.
Mas no caminho eu pensava com meus botões ainda molhados: como a gente vai voltar pra Porto Alegre se não temos dinheiro pra passagem?
Quando descemos da picape eu disse pro budista que não tínhamos dinheiro e perguntei se ele não estaria interessado em comprar um livro que eu trouxera comigo (Os Trabalhadores do Mar, do Victor Hugo, um dos romances mais bonitos que eu já li). Ele respondeu que a leitura dos budistas se resumia aos livros da filosofia de Buda, mas perguntou de quanto precisávamos e deu umas três vezes mais do era necessário. Quase virei budista na hora.
Fomos então à rodoviária. Surpresa!!! Não tinha mais ônibus pra "Capitar". Só às 5 da matina. Mas nos aconselharam a tentar alguma coisa na Faculdade de Taquara, lá havia uns ônibus que levavam alguns alunos que residiam no Vale do Sinos. Beleza! Lá fomos nós. Mas novamente Não! "Os ônibus são fretados pelos alunos, eles não vão gostar de ver estranhos... vão se sentir inseguros, blá, blá, blá...".
Fomos pra um barzinho onde rolava uns agitos. Bebemos e jogamos snooke até sobrar o dinheiro exato pra passagem. Quando tudo acabou fomos pra rodoviária dormir nos bancos duros e frios. E tava frio! Às cinco da madruga chegou o ônibus. Tri moderno... no século retrasado. Mas pelo menos era quentinho e podíamos nos estirar nos bancos. Outro engano! Acordei sendo cutucado por um trabalhador de cara amassada que me pedia um espaço pra sentar. O bus tava atrolhado, às cinco da manhã!!!
Chegamos em Porto Alegre uns cacos! Mas finalmente em casa. Como é bom a casa da gente, né?!!!
Meu amigo continuou pirando por mais alguns anos, até que um dia tomou uma overdose de Ectasy numa festa rave.
Lembro que ele sempre falava de uma guria da Playboy com quem ele tinha transado. Acho que era apaixonado por ela. Fico pensando se ela chegou a saber que ele morreu. Não sei... mas eu e mais alguns amigos, é certo, ainda sentimos saudades daquele maluco.