Tuesday, May 08, 2007

Die Verwirrungen des Zögling Telmo

"Mas era exatamente isso que Törless não conseguia entender. Os planos pacientes que imperceptivelmente encadeiam os dias, formando meses e anos para o adulto, ainda lhe eram alheios. Assim também o embotamento que nem ao menos permite fazer indagações quando mais um dia se acaba. Sua vida estava enfocada sobre cada dia. Cada noite lhe significava um nada, uma sepultura, uma extinção. Ele ainda não aprendera a morrer a cada fim de dia sem se preocupar".
As Desventuras do Jovem Törless - Robert Musil

Vou morrer esta noite, carregado de signos e triste, uma tristeza vazia, tristeza de nada. Se enterrará comigo a incômoda certeza de que nem minha morte é minha. O que vai acabar hoje são as coisas em mim. Mas é claro, as coisas continuarão, nunca iguais, nem na mesma medida... mas sempre e sempre, como foi ontem e antes e antes e ainda antes de ontem.
Os coveiros dirão:
- Quem foi esse? Mais um buscador?
- É... mais um pobre miserável. Olha, mesmo agora, vazio, não perde o semblante solene, o rosto grave de tantas páginas. Vamos jogar terra nesta cara de bibliotecas. Mais terra.
- Não seria melhor cerrar-lhe as pálpebras?
- Ora, por quê? Não percebe o vítreo destes olhos? Eles nunca se fecharam, e é a única coisa que este coitado leva, a única coisa legitimamente dele... a busca.

Não estarão muito longe da verdade. Mas haverá um segredo sendo enterrado ali. Os signos flutuarão de volta reclamando as propriedades de onipresença e atemporalidade, mas comigo ficará um hiato, um lapso monumental de tempo e espaço que antes dessa cerimônia já me matou e ressuscitou impiedosamente - por que impiedosa e catártica é a cara lavada desta comédia. Há que se enxergar nesta hora: as coisas fazem uma volta completa, permeadas e permeando alegrias e tristezas, dores e prazeres, derrotas e vitórias, para fechar um círculo bamboleante onde bem se pode rir de tudo isso...
Mas há - escute bem, meu amigo - há um elemento que é o raio e a circunferência, a completa medida desta roda. Não creio que se tire da leitura esta noção. É antes um desde sempre embora saibamo-nos a partir de um dia. E mesmo assim, indefinido, não haverá quem ouse protestar esta certeza tácita, de raiz sutil e profunda, dedos úmidos da criança que sempre fomos, cavocando o húmus da terra. É só a verdade, e a verdade é Amor. Quem não se perdeu ou se acovardou sabe que de outra maneira não se poderia rir de uma besteira qualquer sem sentir o aperto na garganta que é já a corda do suicídio. Amar é um adiamento despreocupado, uma adiamento de si mesmo e a promessa do hoje amanhã, sem medo, sem tédio e sem cansaço.
Cavem, coveiros. Joguem sobre estes olhos a terra de milhões de anos e as palavras fáceis de se jogar. Vamos repetir isso por muito tempo ainda.

Monday, May 07, 2007

Ray Bradbury (1)

Tenho este material há anos. É um conto do Ray Bradbury (Fahrenheit 451, Crônicas Marcianas, etc) que foi publicado na Playboy (sim, eu curtia também as entrevistas e reportagens). É muito bonito. Lembro que, influenciado por este conto, comprei um livro do Bradbury intitulado "Morte é Uma Transação Solitária". Era uma incursão do cara no romance policial. Não ficou bom, infelizmente. Mas recomendo o Fahrenheit 451, que virou filme nas mãos do Truffaut (O Homem que Amava as Mulheres). O filme é sobre livros e fahrenheit 451 é a temperatura em que o papel entra em combustão, mas não vou contar o filme. Assistam! Por enquanto aproveitem esta história (tão bonita).

Ray Bradbury (2)

Ray Bradbury (3)

Ray Bradbury (4)

Ray Bradbury (5)

Friday, May 04, 2007

O Homem é Mau

Esse cara aí, de chapéu, certamente nunca leu sobre o Imperativo Categórico Kantiano (bom, eu também não, mas juro que não vou sair por aí escravizando aborígines). Foto triste pra caramba. Li "O Senhor das Moscas", do escritor britânico William Golding. É um romance de tese que fala da naturalidade do mal. O homem fora da sociedade, segundo o autor, retorna ao estado de natureza de Hobbes, volta à selvageria. Eu gostaria de contribuir com as idéias do "Seu" Golding e afirmar que nem a tal da sociedade tá segurando a natureza selvagem do Lobo Homem. Às vezes a própria sociedade, o Estado, é o predador do indivíduo. Ôpa... palavra bonita essa, né? INDIVÍDUO. Gosto dela. Mas talvez minhas predileções não valham. Sou misantropo, um pessimista e um individualista. Só acredito na revolução pessoal. Nós temos dois problemas: a natureza humana e a realidade física. Se não tivéssemos que disputar lugar no mundo, quase tudo estaria resolvido. Não é fantástico? Nosso problema é a corporeidade!