Friday, November 24, 2006

A retórica masculina e o poder de síntese feminino

Ele – Então esse fardo tornou-se demasiado cansativo, pesado para além do que meus ombros de caçador, mantenedor e reprodutor poderiam suportar. Se eu beijava o chão, tenha certeza, não era uma reverência, eu me prostrava sob a pressão dos milênios, por que houve um erro; não sou um neandertal, sou uma conseqüência. Você deveria saber onde eu estou. Me situo além do vigor biológico e das bem irrigadas ramificações sangüíneas e terminações nervosas. Eu sou um estilhaço da TV, do jornal, do out-door, da revista, da cultura ocidental e da percepção de mim mesmo. Morri estupidificado, estulto, embotado, de uma overdose de informação. Havia o seu sexo intumescido e havia o convite original do sentidos, mas sobreveio a dissecação e a dissertação, o tratado e as divergências e todas as hipóteses para o que se justificava num abrir de coxas. Eu perdi o vínculo febril com essa fenda sísmica. Adentrei uma outra caverna que não a sua, não a de neandertal – e bastaria ser só instinto – mas uma que surgiu como que para me reduzir ao mais ínfimo dos ancestrais. Estou no breu desta morada rochosa e é sem nenhuma reação que vou me transfigurando nesse bicho amorfo – moderno com seus apetrechos eletrônicos e os símbolos do status consumista, mas amorfo. Agora estou quase extirpando a consciência dessa carne morta, desse apêndice que aponta na direção contrária à sua justa culminância...
Ela
– Meu bem... toma logo esse Viagra!

1 comment:

Anonymous said...

genial!