No dia em que fiquei louco me encheram de gestos comedidos,
de palavras brandas e conselhos inócuos.
Tarde demais!!! - gritei pra eles - Tarde demais!!!
E continuei gritando, vociferando em transe, me apegando
a despautérios e abocanhando generosos nacos de mundo.
Como me fartei de mundo!
Um cais fez morada em mim e nele aportaram flibusteiros,
corsários, piratas e degredados.Vinham de todos os lugares,
mas sempre apátridas. Ancorei a Nau dos Loucos e depois
fui além. Seguia o eco de meus próprios gritos, guturais e de
plenos pulmões. Estava amando-os. Eu era um Narciso sonoro
que se redescobria em timbres, modulações, sonâncias e dissonâncias.
Penso que inventei uma nova língua, uma língua para o futuro.
Às pessoas de agora, só pude devolver seus olhares.
Foram tantos e tão displicentemente jogados que já não
tinha mais onde guardá-los. Se não os restituísse, certamente
prejudicaria seus donos, que temem a tormenta, a tragédia,
a cisão do mundo e o juízo final.
A mim, no entanto, ninguém ressarciu a coreografia das
esquinas em plena sintonia com a música do universo.
Isso pra não falar do difícil sincronismo - árdua e deliciosamente
conseguido - entre minha dança e o coração das coisas.
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