Saturday, November 11, 2006

Homem Trapo

Ensandecido de existência
Vagava alheio a si mesmo
Curiosa de sua providência
A noite sempre o aguardava
Calçadas e jornais velhos
Eram íntimos incômodos, tenazes
O frio também
Sujo de mundo
Fedendo a ruas
Tinha métrica caótica nos passos
Tinha poesia
E mijava nas calças
Filetes de saliva
Irrigavam um emaranhado de fios
Enfeitados de gordura e sol
O torpor de sua indiferença
Dançava alegre sob vaias
Pois nunca fora estilístico ou a rigor
Apenas vertia de seus trapos
Que à noite o engoliam
O que dele era asco imensurável
Transpunha conceitos roçando o divino
Deus o via com o canto dos olhos
E franzia a testa.

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